O que tenho lido (e o que tô querendo ler)

Dando uma movimentada na estante

Os primeiros meses de 2024 foram insanos. Não sou de comentar muito sobre vida pessoal ou profissional nas redes, mas só de janeiro à março foram mais uma cirurgia e internação do gato (que já tinha passado por duas em dezembro de 23), burnout com direito à corte da agência que trabalhava. Em abril, as coisas foram voltando ao normal, e hoje posso dizer que tá tudo bem melhor que antes.

Mas foi justamente essa instabilidade que abriu a possibilidade de me fazer ler mais ao longo dos meses. Consegui retirar algumas coisas da fila, que tava curioso, ou só retomar algumas leituras. Depois de um tempo, ler vira meio que parte do trabalho, então tento alinhar as coisas que leio com aquilo que quero escrever, ou que tô trabalhando, e tenho trabalhado bastante. Só esse ano já foi um projeto, com outros dois em andamento e mais um pra dar uns tapas. Muita coisa.

Pensando nisso, fiz uma listinha de coisas que comecei a ler, a maioria ainda não terminei, mas que me chamaram atenção por algum motivo.

O que li ou estou lendo

Rinha de galo, Maria Fernanda Ampuero

Eu vou ser bem sincero: a capa desse livro me chamou atenção desde a primeira vez que bati o olho na Amazon. Lá em casa, a gente sempre teve muita ligação com galos e galinhas. Meu pai ama, diz que nenhum quintal pode viver sem galinha por perto. No bairro que cresci, rinhas de galo eram comuns. Era super normal ver um grupo colocando galos criados para rinha pra brigar na rua de tarde numa quarta-feira qualquer. Os bichos recebiam vitaminas e rações de crescimento, tinham as esporas serradas pra colocar esporas de acrílico e muitos acabavam morrendo ao longo dos combates. A gente não tava alheio a isso.

Rinha de galo é um ambiente sujo, violento, masculino e masculinista. Nesse sentido, o livro homônimo tem tudo isso e mais um pouco. O primeiro conto é direto em mostrar toda essa podridão, mas vai além, porque Ampuero traz também todas as pontas de contato que ser uma mulher numa sociedade tão podre sofrem. Os contos são curtos e potentes, bem escritos e nunca deixam a sensação de que precisariam de mais linhas. Excelente experiência de horror latino.

Inventário de predadores domésticos, Verena Cavalcanti

Poucas experiências no terror nacional têm a potência de Inventário de predadores domésticos. Você vai achar grandes histórias de terror em obras nacionais (e vou falar de algumas mais pra frente), mas essa coletânea traz uma série de sutilezas, na estrutura e na escrita, que elevam os contos.

Temos contos de terror narrados do ponto de vista de crianças e pré adolescentes, todos correlacionados aos predadores domésticos (que vocês já devem imaginar quais tipos de predadores domésticos estamos falando aqui), fazendo correlações com os aspectos de violências que esses protagonistas sofrem com características encontradas em insetos, que são tratados como predadores domésticos. Sintonia fina. Junte a isso a transição do terror mais sujo para o insólito, boa escolha da ordem dos contos, prosa bem balanceada entre o uso de linguagem coloquial com estruturas de períodos que te colocam numa conversa com o narrador-personagem e projeto gráfico lindíssimo. Dá nem vontade de terminar.

As coisas que perdemos no fogo, Mariana Enriquez

Comecei a ler Mariana Enriquez porque Tassi, dona da Três Pontos, recomendou. Disse que a temática que ela gostava de trabalhar se parecia com o que tinha feito em Xuxa Preta e fui ver de perto. Mas ela escreve tão bem que fico envergonhado com a comparação.

Confesso que o contato foi meio difícil no início. No primeiro conto, O menino sujo, Mariana traz algumas descrições e percepções sobre religiosidade afrobrasileira bem errôneas, que podem, sim, abrir espaço pra interpretações erradas sobre o assunto pros mais leigos, e isso me deixou meio coisado. Ao longo que as histórias foram seguindo, e fui experienciando outras narrativas dela dentro da obra, fui entendendo mais o raciocínio e ponto de vista da autora e me apegando ao trabalho dela.

Aqui, as histórias giram em torno das marcas sociais que as várias ditaduras sofridas na Argentina causaram ao povo, especialmente às mulheres. Não estamos falando aqui de narrativas com grandes pontos de virada ou mistérios cheios de subtramas, mas de personagens complexas, com grande aprofundamento da psiquê delas e isso me agrada bastante. Gosto bastante do A hospedaria e A casa de Adela, acho dois dos melhores contos da coletânea.

Contos de horror da América Latina, vários autores

Esse livro veio de brinde, acho, numa edição mensal da Tag. Não sou assinante, mas minha sogra é; ela não gosta de terror, mas sabe que eu gosto, então me deu. Aqui, só a nata da nata: Horácio Quiroga, Machado de Assis, Lima Barreto, Juana Manuela Gorroti, Júlia Lopes de Almeida, só pra citar alguns.

É uma obra curta, com contos igualmente curtos, em que a ordem não influencia tanto na percepção geral do projeto, uma vez que se trata de um grande compilado de histórias desses autores. Palmas pra Lima Barreto, que, para a surpresa de zero pessoas, brilha e traz brilho.

O que ainda quero ler

Coelho branco, Bora Chung

Esse vai na mesma linha do Rinha de galo: tem bicho na capa, me chama a atenção. Mas além disso, tem uma série de fatores que me faz criar boas expectativas: é a primeira obra da autora, vencedor de um dos maiores prêmios literários do mundo, escrito por uma autora sul-coreana, com fluidez entre gêneros de ficção especulativa, publicado globalmente pela Tor e localmente pela Alfaguara.

Se isso não for bom, eu sou um coelho branco.

De gados e homens, Ana Paula Maia

Quem conhece Assim na terra como embaixo da terra sabe do que essa negrona é capaz quando tem o Word na frente dela. De gados e homens tem uma ideia interessantíssima, pela sinopse, e a experiência prévia já acende a luzinha da curiosidade na cabeça. E só pra não deixar passar: Enterre seus mortos também tá no meu radar.

Porco de raça, Bruno Ribeiro

Eu não sei se essa lista tá parecendo um grande ensopado de proteína animal, mas fato é que Porco de raça vem me chamando a atenção faz um bom tempo. A história de um professor que vai parar num ringue usando uma máscara de porco pode lembrar o novo filme do Dev Patel, Monkey Man, o que só me deixa mais animado, porque amo histórias assim. E olhando pra carreira do Bruno Ribeiro, impossível não pensar o quanto ele deve ter brilhado nessa obra.

A vegetariana, Han Kang

Mais uma obra sul-coreana. Essa foi indicação do Dante, meu agente, e sinto que, de todos nessa lista, vai ser o primeiro a ser lido. Adoro romance-mosaico, acho uma forma super moderna de contar e estruturar narrativas, e a premissa chama atenção por si, só. Aqui no Brasil a obra é publicada pela Todavia, que tem um catálogo excelente, o que só me deixa mais seguro pra investir na leitura.

Infelizmente, muita coisa não coube, ou caberia, aqui. Claro, ao longo das atualizações de leitura, novas listas vão surgindo. Algumas outras coisinhas que tô de olho vocês podem ver na minha wishlist da Amazon.

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